Pode até parecer estranho, mas frutas, como a banana, apesar de já terem a cara do Brasil, não surgiram aqui. As nativas, muitas vezes, acabam sendo consumidas apenas regionalmente, caso do umbu, predominante na Bahia.
Ainda assim, o país possui uma grande diversidade desses alimentos e está entre os principais fruticultores do mundo, ocupando o 3° lugar. A maior parte dessa colheita fica no Brasil, tendo uma exportação ainda fraca deste setor.
Um dos motivos para isso é que o consumo de frutas em todos os continentes ainda está abaixo do que seria recomendado para uma dieta balanceada, aponta Francisco Laranjeira, chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Mandioca e Fruticultura.
Para tentar mudar um pouco deste cenário, 2021 foi eleito o Ano Internacional das Frutas e Vegetais pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Fao). O objetivo era estruturar a divulgação sobre a importância do consumo de frutas e hortaliças para uma dieta saudável.

Deixadas de lado
Feijoa: rica em cálcio, zinco, magnésio, proteínas e vitaminas do complexo B e C, reforça o sistema imunológico e cognitivo e o combate à depressão, afirma a nutricionista Adriane Marcom.
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A feijoa reforça o sistema imunológico, o combate à depressão e o sistema cognitivo — Foto: HortResearch/Divulgação
Biribá: nativa da Floresta Amazônica, tem um sabor adocicado. É fonte de antioxidantes, fibras, ferro e vitaminas do complexo B e C, reforçando o sistema imunológico.
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Biribá é nativa da Floresta Amazônica — Foto: I likE plants! on VisualHunt
Cajá: é cultivada, principalmente, no Norte e no Nordeste. Se trata de uma fruta rica em carotenoides, um poderoso antioxidante que pode se converter em vitamina A, ajudando também a prevenir câncer e doenças cardiovasculares, aponta Adriane.
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Cajá é cultivada principalmente no Norte e no Nordeste — Foto: Divulgação
Juá: natural da Caatinga, contém propriedades diuréticas, anti-inflamatórias, analgésicas e, por isso, é muito usada como uma planta medicinal.
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Juá é natural da Caatinga — Foto: Reprodução / Globo Rural
Camu-camu: fruta azeda, é plantada na Amazônia. Considerada rica em vitamina C e antioxidantes que ajudam a combater os radicais livres, tem ação anti-inflamatória, gera energia e alivia o humor.
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Camu-camu é plantada na Amazônia — Foto: Kaoru Yuyama
Por que são deixadas de lado?
Entre as frutas mais consumidas do país, a maioria não é nativa do Brasil. Considerando as 5 primeiras (banana, laranja, melancia, maçã e mamão), nenhuma é.
Muitas das frutas nativas acabam sendo conhecidas apenas regionalmente, como o umbu, descrito por Laranjeira como uma ameixa mais azeda. Ele é tradicional da Bahia e sua árvore é um símbolo do estado, mas, fora dele, ele não é tão divulgado.
Cada uma tem o seu motivo por não ser tão popular nacionalmente, diz o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa. No caso do umbu, é que a sua colheita acontece apenas durante um mês por ano, sendo insuficiente para atender uma demanda de parâmetro nacional.
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Umbu é fruta nativa da Caatinga — Foto: Divulgação/Coopercuc
Além disso, existe uma questão de falta de hábito, aponta Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). Por serem desconhecidas em outras regiões, acabam não tendo demanda para a sua comercialização fora da esfera local.
Mas nem todas as nativas são anônimas, algumas são bem famosas, como o maracujá, o abacaxi e o açaí. Elas, inclusive, também se tornaram populares em outros países. O caju, por exemplo, é brasileiro, mas muito plantado na Índia, diz o pesquisador.
Para ele, as frutas importadas que se tornaram demasiadamente cultivadas e populares são como “naturalizadas” brasileiras, “por já estarem intrínsecas ao nosso jeito de ser. O limão, a banana, não são do Brasil, mas quem hoje em dia conseguiria dizer que essas frutas não estão naturalizadas no Brasil?”, diz.
“O Brasil tem frutas fantásticas, mas outros países também têm. O que eu acho muito relevante é a diversificação. Ter essa diversidade de frutas é muito importante do ponto de vista de sustentabilidade do setor, de diversidade cultural, gastronômica e nutricional”, afirma Laranjeira.
Mantendo em casa
Apesar da posição vantajosa na produção das frutas, o Brasil não é um grande exportador, ocupando o 23° lugar no ranking mundial, segundo Coelho, presidente da Abrafrutas.
Uma das razões para isso é que a demanda do mercado interno é bastante forte, monopolizando a produção brasileira, sendo o destino de 65% dela.
Além disso, existem pontos específicos de cada fruta, por exemplo, se a sua conservação pós-colheita é boa o suficiente para chegar até o destino sem prejuízos, explica Francisco Laranjeira da Embrapa.
Há também a questão de algumas frutas não atenderem ao padrão de determinados países, afirma Laranjeira. É o caso da tangerina, que deve ser bem colorida e sem sementes, mas, em algumas das ofertas brasileiras, como a da Bahia, ela é mais esverdeada por causa do calor.
Para Coelho, o Brasil tem um grande potencial para exportação a ser explorado. Uma dessas oportunidades é o Nordeste que, com a agricultura irrigada, tem cada vez mais capacidade de produzir frutas o ano inteiro, ficando disponível para as demandas externas.
Precisa de gente
A fruticultura ainda é um setor muito manual devido a sensibilidade das frutas, por isso, no agro, é uma das áreas que mais emprega, diz Coelho.
“Um trabalhador de soja não pega no grão nem para plantar, nem para colher. É uma área enorme e tudo mecanizado com alta tecnologia”, exemplifica.
“(Na fruticultura) tem muitas tarefas para fazer uma fruta. Não é só você plantar e ela aparece. Muitas vezes tem que fazer uma limpeza, raleio, alguma atividade que exige mão de obra”, completa.
Ele afirma que boa parte dos empregos são disponibilizados a mulheres, que acabam tendo mais agilidade e cuidado ao tratar das frutas, principalmente no momento de colocá-las nas embalagens.
Desafios
O plantio de frutas ocorre, em maioria, a céu aberto, deixando as lavouras expostas às intempéries do clima, como chuvas fortes e períodos de seca.
Mas esse não é o único desafio enfrentado por quem decide seguir com esse cultivo. Coelho afirma que os produtores tiveram que lidar com 3 grandes aumentos de preços que acabaram dificultando a comercialização:
- o crescimento do frete de navios;
- a elevação do preço dos insumos, como os fertilizantes, e a escassez destes produtos no mercado;
- a alta do custo das embalagens, principalmente das caixas de papelão.
Além disso, Laranjeiras afirma que o setor ainda precisa se digitalizar mais, desenvolver variedades de plantas resistentes a pragas e operar de forma sustentável, não somente no sentido ambiental – de modo a mitigar efeitos das mudanças climáticas – como também no econômico, gerando retorno financeiro e social.
Fonte: G1